História e histórias

Difícil precisar exatamente quando esse piano C. Bechstein chegou em São João da Boa Vista. Fabricado em 1918, o instrumento aterrissou nos Crepúsculos em meados da década de 1920. O historiador Antonio Carlos Lorette defende a hipótese de que o piano foi adquirido pelo quadro associativo do Centro Recreativo Sanjoanense, então composto por filhos intelectualizados da aristocracia rural que comandava a cidade.

Certo é que a peça histórica integrou a patrimônio do Theatro Municipal e da Sociedade Cultura Artística, esta última uma confraria de intelectuais e artistas sanjoanenses fundada em 1930 que se reunia no pavimento superior do foyer do Theatro. Segundo o pesquisador Lorette, naquele mesmo 1930 Heitor Villa-Lobos se apresentou no Theatro usando o antológico piano de cauda.

Em 1946, Guiomar Novaes voltou a São João para um recital no Theatro em prol da Casa da Criança. A consagrada pianista também mostrou seu talento no enorme C. Bechstein que protagoniza este texto.

Com o passar dos anos, a falta de manutenção, cessões infelizes e reformas inadequadas foram cabais para deixar o piano à mercê de melancólicos usos corrosivos: aparador de vasos de samambaias, mesa de pingue-pongue e tábua de refeições.

Lorette, o incansável gladiador do patrimônio histórico de São João, pediu socorro ao casal mecenas Angela Bonfante e Geraldo Dezena para salvar o piano de cento e quatro anos da ruína absoluta. Sensibilizados, eles assumiram o ônus do restauro, contrataram um paulistano expert na marca C. Bechstein e, depois de oito meses de um trabalho minucioso e dispendioso, o instrumente de cauda inteira está lindo, renovado, impecável, imponente. Onde? Na Boca do Leão em Águas da Prata, totalmente disponível para visitação.

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