Pico do Papagaio

A Natureza exuberante do Vale do Matutu

Por Ivan Masetti

Na primeira vez que fomos, Suzana e eu, ao Vale do Matutu, um distrito de Aiuruoca (MG), que integra o Parque Estadual do Papagaio, eu logo me encantei com a estrada de terra cheia de curvas e o horizonte de montanhas altas cobertas de mata e água correndo. Lembro que era alto verão e chovia. Logo começaram as subidas fortes. Até que o carro passou a patinar em um atoleiro e descer de ré. Ele só parou quando encostou em um pequeno barranco. Não muito perto, havia um sítio e um dos moradores passou um rádio – único meio de comunicação na época – para o Rickson, proprietário da pousada Mandala das Águas, junto com Márcia, hoje grandes amigos nossos.
Lá veio ele de moto para levar a bagagem. Nós seguimos a pé. Não lembro quanto tempo de caminhada. No fim de uma subida, um senhor magro, rosto vincado, montado em seu cavalo, parecia nos esperar. Perguntei onde era a pousada e ele respondeu declamando um poema ritmado. No final sorriu e apontou com o indicador a porteira da Mandala. Cena de realismo fantástico!
Era o seu Tião Ferreira., figura querida dos moradores e visitantes que fazia poesias falando do Matutu. Analfabeto, tinha toda a sua produção arquivada na memória.
Desde aquela aventura, vamos para o Vale do Matutu pelo menos uma vez por ano, sempre descobrindo algo novo. É uma necessidade. Antes mesmo de chegar ao destino, a ansiedade desaparece e os sentidos se aguçam. É o som de água escorrendo montanha abaixo, das nascentes ou dos rios em leito de pedras. Das aves, dos sapos, grilos e dos animais dentro da floresta. É a luz refletida na mata, a cerração dando várias formas seguidas ao Pico do Papagaio.
E as noites têm o céu mais bonito que eu conheço. Não há qualquer clarão próximo que atrapalhe a visão do cosmo.
É uma região para se caminhar seja pela estrada, seja pelas trilhas que levam ao rio, às nascentes, às cachoeiras. Muitos dos passeios devem ser acompanhados por um guia. Para isso, é só ir até o Casarão, uma construção do início do séc. XX. Lá se consegue informações sobre caminhadas e indicação de guias. Também é possível alugar cavalos. No local há uma loja que vende artesanato e roupas produzidos na região.
Também há uma simpática mercearia com queijos, mel, pães, conservas. É servido café com pão de queijo e sanduíches.
De modo geral, a maioria das pousadas serve apenas café da manhã. Para almoçar há três restaurantes com cardápios bem diferentes, que eu recomendo:
Bistrô Fios da Terra, vizinho da Mandala das Águas, que tem um lindo visual e cardápio enxuto, com inspiração tailandesa, que pode ser acompanhado por cerveja artesanal, Kombucha e até um Ginger Ale, ambos de produção própria. As sobremesas são muito elogiadas. Nina e família, donos do sítio onde fica o restaurante, também alugam chalés.
Portal da Serra, que possui uma vista maravilhosa do Vale do Matutu e serve um curto cardápio com pegada contemporânea e com opções para vegetarianos. Fica ao lado do Casarão e muito próximo da Cachoeira da Fada.
Tia Iraci, restaurante localizado, também, dentro de um sítio que pertence à própria Iraci. Ela é uma cozinheira criativa e faz pratos quase todos de origem mineira, inclusive um porco pururuca bastante disputado. Muitos dos ingredientes de seus pratos são do próprio sítio. Há também uma pousada muito simpática e uma mercearia com várias produções próprias. Como o restaurante é muito procurado, melhor fazer reserva. Para quem gosta de caminhar é só seguir a trilha que sai do Casarão em direção às cachoeiras do Meio e do Fundo.
As pousadas não têm luxo, até porque os visitantes querem mais desfrutar o contato com a natureza. As pousadas do Vale do Matutu são simples, simpáticas e aconchegantes. Já ficamos em várias delas, mas a que mais frequentamos é a Mandala das Águas. Nos sentimos sempre acolhidos pela Márcia e pelo Rickson que se tornaram amigos. Além disso temos acesso privilegiado ao Ribeirão da Água Preto, o mais caudaloso do Vale que corre sobre pedras com pequenas quedas e poços e protegido por uma mata ciliar exuberante. O som das águas é ouvido 24 horas, até mesmo de dentro dos apartamentos. Outro atrativo é a visão do Pico do Papagaio com quase 2.200 metros de altura. Do lado oposto está a Cabeça do Leão, 1.600 metros de altitude.
No outono e inverno, as dezenas de cerejeiras florescem e dão uma outra cor à Mandala das Águas. É um lugar especial para fazer muitos amigos e desfrutar de música de qualidade, executada pelo próprio Rickson, músicos locais e hospedes ilustres.

Restaurante e Pousada Tia Iraci: 35 99844-5212

Fios da Terra – Restaurante e chalés para aluguel: 35 99979-8439

Restaurante Portal da Serra: 35 91018-9338